Poesia: O Brasileiro Ferreira Gullar
Recém ingresso na ABL - Academia Brasileira de Letras, decidi colocar algumas de suas poesias neo concretistas aqui para homenageá-lo.
Traduzir-se
Uma parte de mim
é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão: outra parte estranheza e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera: outra parte delira.
Uma parte de mim
almoça e janta: outra parte se espanta.
Uma parte de mim
é permanente: outra parte se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem: outra parte, linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte - que é uma questão de vida ou morte - será arte?
( Ferreira Gullar )
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Madrugada
Do fundo de meu quarto, do fundo
de meu corpo clandestino ouço (não vejo) ouço crescer no osso e no músculo da noite a noite
a noite ocidental obscenamente acesa
sobre meu país dividido em classes
( Ferreira Gullar )
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No corpo
De que vale tentar reconstruir com palavras
O que o verão levou Entre nuvens e risos Junto com o jornal velho pelos ares
O sonho na boca, o incêndio na cama,
o apelo da noite Agora são apenas esta contração (este clarão) do maxilar dentro do rosto.
A poesia é o presente.
( Ferreira Gullar ) |
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